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segunda-feira, 1 de março de 2010

Apolinário Andrade
Publicado em fevereiro 12, 2008 por Soteropolitanos

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Depoimentos de Apolinário José de Andrade e seu filho Roque Cícero, moradores de Novo Marotinho desde a década de 50.

Novo Marotinho é porque desapiaram (desapropriaram) um Marotinho que tinha lá na Fazenda Grande do Retiro. Então tiraram os pessoá de lá e botaram pra aqui. Lá era o velho Marotinho, então botaram aqui “Novo Marotinho”.
(Apolinário Andrade)

Marotinho era o fundador de lá. O terreno que eles invadiram pertencia a esse Marotinho. E até hoje ainda existe na baixada. O prefeito da época tirou de lá e mandou pra aqui. Tudo isso aqui era uma fazenda, chamava Mar Vila. Aí o pessoal botaram Fazenda Má Vida, porque era uma fazenda desgraçada de feia e não tinha nada de mar perto…
Saindo do Brasil Gás, até São Cristóvão, era sítios e fazendas. Depois que o pessoal começou a frequentar mais, aí foram vendendo, surgiu esse bairro, surgiu Sete de Abril, Jardim Nova Esperança, Vila Mar, Nova Brasília, Coqueiro Grande. Está tudo diferente hoje. Diferente pra melhor e pra pior… Melhor porque antigamente só tinha sítio, era tudo ar livre. E hoje é uma poluição da zorra. Então naquele tempo acho que era melhor.
(Roque Cícero)

Aqui não tinha rua não. Era só a Estrada (EVA). O pessoal foi derrubando as árvores pra fazer casa. A maior parte desses terrenos aqui foi a prefeitura que deu. Da rodagem pra cá. Pra lá, não. A minha casa eu comprei na mão da Urbis. Agora é fácil comprar casa aqui. Não é caro não. Na base de R$5 mil, R$ 6 mil.
A violência aqui mudou muito. Tá melhor do que antes. Tem o módulo policial ali. Embora só veve fechado, mas o pessoal receia. Hoje mesmo tá fechado. Aqui era violento, agora não tá não. Eu fiz aquele módulo policial, que não tinha. Então a gente juntou aqui, eu com os com comerciários, e fizemos. Tem uns 10 anos. Agora ele está fechado…
Posto de saúde tem. Se eu quiser, tem aí posto de saúde. Se não quiser, pego o carro e vou pra outro bairro. Agora, aqui não tem uma farmácia.
O transporte aqui, antes, tinha um senhor chamado João, que tinha um caminhão e tinha sete ônibus “da cara curta”. Então, esse homem morreu, tiraram os carros. Ficou um carro. Aí veio um rapaz, botou um carro. Aí tinha escrito: “Sou pioneiro, se chover não me espere”. Porque tinha muita lama, o carro pegava, não saía… Hoje o transporte é bom, toda hora tem. Todo canto tem transporte aqui. Lá na principal.
O asfalto aqui em Marotinho chegou foi no tempo de Mário Kertész. Pra mim, todos os prefeitos foi bom. O pior é esse que está aí agora (João Henrique), não fez nada! Eu chamo ele “João pintor”. O negócio dele é pintar rua. O pai dele até foi um bom governador. Ele é péssimo. O pai, João Durval, o que fez aqui foi botar esse campo de bola (Estádio do Barradão) pelo menos.
Aqui não tem esgoto, é tudo fossa. O Bahia Azul não chegou ainda.
(Apolinário Andrade)

CELEBRAÇÕES

Tinha uma festa aqui na Escola Municipal Sete de Abril (onde atualmente é a Escola Novo Marotinho). Esse arvoredo aí mesmo nós que plantamos no Dia da Árvore. Então marcava e todo ano fazia festa de fim-de-ano, festa de São João. Dia da Árvore a gente festejava muito bem mesmo, vinha o prefeito, vinha celebridade. Hoje não tem, a consciência do povo é outra. Aquele tempo era melhor. Ainda tinha aqui o Dia do Marotinho. Era 12 de outubro. Era bem organizada, sem violência, sem nada. Tinha uma programação que começava 6h da manhã e só terminava 10h da noite. Na parte de esporte quem cuidava mais era eu. Dia das Crianças e Dia do Marotinho.
(Roque Cícero)

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HISTÓRIA DE VIDA

O meu nome é Apolinário José de Andrade. Eu tenho 91 anos de idade. Só o que me persegue é a vista, que eu só não enxergo direito… Eu casei com Benedita em 38. Eu tenho seis filhos, alguns netos e um bisneto, mas morando aqui comigo eu tenho Marinalva, José, Marina e Mariá. Meus filhos tudo nasceram no interior da Bahia, São Felipe. Eu morava lá.
Naquela época, em 1955, eu tomava conta de uma chácara ali. Depois ele vendeu essa chácara a outro. Então queria que eu fosse para Itaberaba. Eu disse:
- Pra Itaberaba eu não vou.
Aí ele disse:
- Então, alugue uma casa.
- Como é que eu posso alugar uma casa? Desempregado…
- Eu pago o aluguel até o senhor arranjar um emprego.
Aí eu fui e arranjei uma casa. E todo mês eu ia buscar o ordenado que eu ganhava e o aluguel da casa. Mas eu achei… Trabalhando de graça? Trabalhando pra os outros assim de graça? Aí o dono chegou e perguntou se eu queria trabalhar na fazenda. Eu disse:
- Quero.
- Então você se apresenta lá, que meio-dia eu vou lá.
Quando foi meio-dia ele veio aqui.
- Eu quero que você tome conta de tudo isso aqui, mas não é pra trabalhar, não. É pra tomar conta.
Aí eu fiquei como capataz. Levei 25 anos. Depois eles deram isso aqui e eu fui trabalhar na rua como fiscal de feira.
Essa loja de peças tem 15 anos. Primeiro eu tinha um bar aqui. Depois eu perdi a vista, não pude mais trabalhar, então eu aluguei. Meu filho botou a casa de peças e eu fico aqui tomando conta. Ele tem oficina também.
Hoje, o que eu mais gosto de fazer é dormir. Já trabalhei demais. (risos) Dormir e comer, não tem nada melhor. Não fico parado não. Vou pro mercado, vou pra praia. Nós temos casa lá em Amoreiras. Todo ano vou pra lá com a família. A gente fica 20, 30 dias. Morar em outro bairro? Que nada! Eu gosto daqui. Só saio daqui para o caixão!
(Apolinário Andrade)

Entrevista realizada em 16 de novembro de 2007.

fazenda mar vila=sete de abril

Osvaldo Sena

Eu nasci em 22 de janeiro de 1939. Tenho orgulho de ter nascido na heróica Cachoeira. Vim para aqui em 1945. Era pequenininho e estudei em alguns colégios bons, alcancei bons professores. Naquela época eram rígidos, como o Instituto Normal da Bahia. E eu, pobre, enfrentei algumas dificuldades. Fui criado também com meus padrinhos. Depois eles vieram a falecer e tive alguns prejuízos materiais, mas fui bem tratado pela minha família. Eu, como pobre, trabalhei, fazia serviços diversos na rua. Trabalhei até de ajudante de pedreiro. Fazia tudo e depois me encontrei com esse Senhor Edmundo Palmeirão e comecei a trabalhar com ele pegando mendigos na rua. Trabalhava também com criança, pegando idosos, o que me incentivou para que eu criasse a Associação Baiana de Defesa dos Direitos dos Idosos. Então, a partir daí, quando foi reaberto o São Geraldo, em 1960, eu entrei no São Geraldo como instrutor.
Também fiz o meu curso de Magistério. Eu preparava o pessoal para o ginásio. Depois eu trabalhei na prefeitura, no Serviço de Mendicância. Ganhava uma gratificação, às vezes o dinheiro atrasava, já sofri muito. Trabalhei honestamente e trabalhei inclusive no comércio, por uns tempos, na empresa Paes Mendonça. Daí voltei para a gestão pública. Fui para a Escola Eraldo Tinoco, já em Sete de Abril. No Eraldo Tinoco, foram 23 anos como professor de várias gerações, de Estudos Sociais. Hoje eu tenho os amigos, o pessoal que me vê, fala comigo. Quer dizer: pai, mãe, filho e até mesmo netos foram meus alunos. Eu aprendi a complexidade da vida pública trabalhando no colégio São Geraldo e também aqui nas associações de moradores. Eu fui presidente do Conselho quatro vezes. Fundamos também essa associação.

O que me motivou muito a criar a Associação Baiana de Defesa dos Direitos dos Idosos foi o que eu assistia – quando eu trabalhava com idosos, com o Seu Edmundo -, o que eu via que se passava com esses idosos. Eram explorados por parentes, que muitas vezes recebiam o dinheiro deles, de aposentadoria e outras coisas, e internavam no Abrigo Dom Pedro II, no albergue das Sete Portas, no de Brotas. Às vezes, sem as mínimas condições de tratamento médico para o idoso. Uma vez eu fui agredido. Eu tenho a marca aqui de uma pedrada que eu tomei de um marginal, quando eu ia defender o idoso. O marginal explorando o idoso, tomando o dinheiro do idoso. Eu defendi e quase morria.

Eu morava no São Geraldo e, depois, quando eu saí do São Geraldo, sempre continuei morando em Sete de Abril. Eu aprendi a gostar do bairro. Inclusive eu tive problemas familiares, fui aconselhado a me mudar de Sete de Abril, mas eu disse: “Não, eu fico em Sete de Abril mesmo”. E fiquei até hoje e não estou arrependido não. Eu não sou fundador daqui sozinho. Comigo estão vários alunos do São Geraldo, muitos dos quais ainda moram aqui e também são fundadores, porque nós mudamos para aqui muito antes dos próprios moradores. Os moradores do conjunto são fundadores do conjunto e eu sou fundador de todo um bairro, porque eu vim muito antes da criação do bairro e da fundação do núcleo também. Na parte política, nós conseguimos ser o primeiro candidato a vereador do bairro. Eu tive uma boa votação, em 1970, porém não consegui ser eleito, mesmo assim eu ainda sou o mais votado aqui da região.


CASAS PARA POMBOS

Aqui era a Fazenda Mar Vila. Depois passou para Sete de Abril, por causa da chegada do prefeito. O bairro Sete de Abril é em homenagem à vinda do primeiro prefeito eleito de Salvador: Hélio Ferreira Machado. A partir daí, foi criado o nome Fazenda Sete de Abril e os seus secretários resolveram colocar o nome Escola Sete de Abril na escola que ele pediu que fosse implantada ali no velho casarão, onde hoje é o Marotinho e tem a Escola Municipal Novo Marotinho. A partir daí, juntando com o pessoal da Fazenda Buraco do Tatu, formaram o Loteamento São José, foi formado o bairro de Sete de Abril.

O núcleo habitacional foi criado com a construção de 500 casas populares. Na época da construção, o presidente Castelo Branco, chegando aqui, sobrevoando de helicóptero, disse que as casas eram para pombos, por achá-las pequenas. Era quase um embrião, dois quartos pequenos de 2 metros. Em muitos não cabia nem uma cama de casal.

As irmãs de caridade de lá dos Alagados não quiseram vir, então foram inscritos funcionários públicos, a maioria militares, civis, bombeiros e outros trabalhadores, inclusive até do mercado informal, e formaram o núcleo. Depois de dois anos de construção, foi inaugurado, em 2 de outubro de 1967, juntando com moradores de lá do antigo Loteamento São José. Então foi formado o bairro Sete de Abril. Começou a ter a vida social, jurídica, com a criação do Conselho de Moradores e realização da primeira missa. Com a fundação do núcleo, já não se falou mais em Fazenda Sete de Abril, agora: bairro Sete de Abril.

Para morar aqui era uma mensalidade baixa, na época. Era R$27 e pouco. Todos podiam pagar e se inscreviam lá na Cohab. Antigamente era no Edifício Alta Bahia, ali no Relógio de São Pedro. Se inscrevia e depois havia um sorteio. Mas veio todo mundo de vez. Foram apenas 500 casas. A criação do bairro foi decorrente da criação do núcleo habitacional de Sete de Abril, porque o loteamento tinha poucas pessoas e não existia bairro. Então, depois da criação do núcleo, foi formado o bairro, com vida própria, transporte, escolas, tudo, enfim.

A questão do município de Lauro de Freitas se resolveu com o povo dando o endereço correto, de Salvador. O Conselho de Moradores interferiu também e Lauro de Freitas ficou de fora mesmo. Através de gestões do Conselho de Moradores, reuniões sucessivas, então foi confirmado o bairro de Sete de Abril como pertencente à Salvador.




INFRA-ESTRUTURA

Quando entregaram o núcleo, já era todo pavimentado. Mas da entrada do bairro aqui para o fim de linha não tinha asfalto, que só veio em 1970. O prefeito Clériston Andrade prometeu o Natal à gente e cumpriu: asfaltou Sete de Abril. Tudo aqui era no núcleo. Começou com tudo: a energia elétrica e a água, que era fornecida através de uma barragem construída lá em baixo. A água vinha para aqui, para essa caixa d’água, que é um marco histórico do bairro.

No loteamento não tinha água, não tinha energia elétrica. Antigamente a gente pegava água no rio, porque não tinha água encanada. Pegava do rio ou então comprava água do jegue. O barril, diariamente, era quem fornecia a água. Os rios eram logo aqui, no loteamento Três de Julho, próximo ao Cambonas. Tinha um rio que a gente tomava banho também. Tinha uma bica. Inclusive vinha gente de fora, no fim de semana, para tomar banho ali no rio. Como tem aquele também lá próximo do Loteamento Alternativo, onde antigamente os ladrões tomavam banho. Ali ainda tem uma água límpida, boa mesmo, corre direto, à vontade. Um local aprazível que serve muito à comunidade que vem de fora e daqui mesmo.

Hoje é preciso renovar o sistema de esgotamento sanitário, precisa mudar, fazer um serviço de restauração de todo o sistema, que está obsoleto, tem mais de 40 anos. Nós temos promessa para o princípio de 2008, já que nós pertencemos à Bacia de Cambonas e não pertencemos ao Bahia Azul. Isso foi o que me respondeu o pessoal lá da Embasa. Então, em 2008, nós teremos a reforma do sistema de esgotamento sanitário, bem como a pavimentação do primeiro núcleo e também das ruas do sofrido loteamento, cheio de ladeiras. É necessária uma grande reforma na pavimentação, com a implantação de escadarias.


COMÉRCIO

O comércio veio crescendo a partir da década de 70. Quando chegou a água encanada, a energia elétrica, foi desenvolvendo e até hoje está aí. Hoje, a parte do loteamento é maior do que o núcleo e é onde se ergue o maior comércio. Antigamente tinha poucas barracas, para vender bebidas, e depois foram criando os pequenos mercadinhos. A cachacinha sempre tinha. Domingão mesmo vendia cachacinha. Lá, Isaías. Aqui teve Sergipe Bombeiro e teve briga, uma polêmica danada, porque Sergipe Bombeiro queria vender e a Urbis proibia, mas depois foi tudo liberado. Depois veio a barraca do Dinho, que é antigo, veio o Val com o bar. Ali, o Ceará, que tinha uma barraca onde hoje tem aquele mercadinho.

Mas o loteamento foi crescendo mais. Veio então esse de Joaquim: Irmão Matos. Antigamente ali era Comal, mas houve um acerto lá com o pessoal da Comal, onde Joaquim trabalhava. Eu sei que depois Joaquim montou o mercadinho dele ali, Mercadinho Irmão Matos, e foi crescendo. Hoje tem tudo lá no loteamento, casa lotérica, tudo, é o maior comércio. A maioria da população e o pessoal de baixa renda – o pessoal do mercado informal -, todos estão lá no loteamento. Aqui é que ainda moram muitos militares, mas muitos venderam e se mudaram.


EDUCAÇÃO

As principais escolas são de 68: a primária, Afrânio Peixoto. Em 81, a escola de ginásio Eraldo Tinoco, só o primeiro grau. E, em 2002, foi implantado o segundo grau. Eu fui professor dali por 23 anos. Foi uma luta para conseguirmos esse segundo grau para Sete de Abril, porque o bairro ainda é pequeno. Mas, junto ao governador, nós lutamos muito. A primeira turma de formandos do segundo grau foi em 2003, pertinho aí, agora.


ACESSO

Aqui era só mato. Ali mesmo onde está o posto policial, era mato onde se jogava lixo. A praça, toda bonitinha, é de 1999. Era simples, depois foi que fizeram a criação do jardim e, agora, este ano, foi que teve a ampliação, colocando o parque infantil e um melhor visual na praça.

Hoje nós sentimos a necessidade de abertura de vias para interligar com Castelo Branco, Jardim Esperança, a Via Regional. Precisamos de mais apoio, para que o bairro não seja um beco sem saída, uma viela. Precisamos de acesso, para criar novas linhas de ônibus ligando Sete de Abril para Cajazeiras e tal. Uma kombi faria a travessia de Sete de Abril para o Novo Marotinho. A construção de uma passarela. Ainda precisamos de muitas coisas, mas já conquistamos, né?

O pessoal reclama de linhas diretas para Barroquinha ou para Campo Grande, mas sempre respondem que não há condição. Quando a comunidade pede uma linha, eles vêm fazer a vistoria e verificar. E, na realidade, o bairro aqui é pequeno, então é um beco ainda sem saída. Agora, depois da construção de vias de acesso para os bairros prontos, como a Via Regional e Castelo Branco, aí há condição de melhoria do sistema viário. As linhas aqui são pelo sistema de transbordo, na Estação Pirajá.


SEGURANÇA

Aqui nós vivemos em paz, não existem certas adversidades. Porque toda criminalidade vem das brigas, dos confrontos de equipes de futebol, outras equipes. Traficantes? São poucos, são pouquíssimos, não temos traficantes famosos aqui. E nós temos também aqui a polícia, que nos dá muita tranquilidade. A Companhia foi inaugurada agora, em 2002.


FESTAS

A vinda da padroeira começou logo em 1968: Nossa Senhora do Carmo. Ela veio aqui em uma romaria, juntamente com a imagem do São Geraldo. O padre na época era o diácono Áureo, juntamente com Seu Edmundo, que também era religioso. Ele era tenor. Ele cantava na orquestra da Basílica do Senhor do Bonfim. Então juntou-se com Áureo e trouxeram aqui em romaria as imagens de São Geraldo e Nossa Senhora do Carmo. No entanto, ao invés do padroeiro ser São Geraldo, eu sei que acertaram que a padroeira mesmo é Nossa Senhora do Carmo, que abrange toda essa região.

Nós organizamos festas, os desfiles de datas notáveis, Dia das Crianças, o Natal, São João, formamos quadrilhas. Há uns 15 anos, em 92, surgiram as Viúvas de São Pedro. É uma festa tradicional. Tem um grupo que organiza e vem muita gente de fora. Tem apoio de políticos também. Os meninos é que colocaram esse nome, o “pessoal do licor”, o pessoal aí da bebida. “Viúvas” porque todos saem vestidos de mulher.

A Lavagem de Sete de Abril sempre tem. É de 1976, sempre em setembro. Ela percorre as ruas principais do bairro. Vem pela Seis de Janeiro e volta lá do Cajueiro. Ainda chamado Cajueiro, porque ali tinha um cajueiro.




VIZINHANÇA

Uma moradora daqui, Dona Mira, com 16 filhos, ganhou o prêmio da “Mãe do Ano”. Nós tínhamos também um rapaz, Sergipe Bombeiro, que foi o primeiro a tomar a chave da casa, foi o primeiro a habitar aqui no núcleo, ali na casa número 94. Tem uma velhinha chamada Bahia que é uma figura folclórica daqui de Sete de Abril. Ela é até torcedora do Bahia, mora ali no loteamento.

Uma pessoa que tem grandes serviços prestados ao bairro na área educacional é a professora Diola, da Escola Rosa Vermelha. Temos algumas lideranças comunitárias, como o Ranulfo, o Leo, Washington, Baltazar, Bozó, Edilberto, que foi candidato a vereador, temos o Carlinhos Zoião, que hoje é chefe do posto.

O São Geraldo é uma instituição para internato de menores. Surgiu pela primeira vez em 45, depois ressurgiu em 1960. Então ele mudou-se para Sete de Abril em 65 e começou a assistir a todo o desenvolvimento da fazenda. Não era mais fazenda, já estava sendo criado um novo bairro e logo depois foi criado Marotinho, Jardim Esperança. Castelo Branco foi logo após Sete de Abril. Ali era a Pedra Preta. E nós – diretores, funcionários, professores, alunos da São Geraldo – nós assistíamos a tudo isso. Assistíamos à passagem de marginais que eram soltos e passavam correndo por aqui. Muitos às vezes até caíam de qualquer jeito, despidos. Os meninos davam roupa, aquela coisa toda. A Fundação Instituto Geraldo continua prestando grandes serviços, com grandes cursos como o Agente Jovem, ProJovem e outros. São Geraldo que tem uma vasta área e que continua prestando serviços ao nosso bairro como a entidade pioneira de Sete de Abril.

Terreiros de candomblé na vizinhança temos o famoso de Mãe Lindaura, ali na Rua Seis de Janeiro. É famoso porque é desde a origem do bairro e vem muitas pessoas de fora. Antônio Carlos Magalhães, Beijoca, o pai de Beijoca também freqüentava muito o terreiro de Mãe Lindaura.

SAÚDE
Em 1974 foi inaugurado o posto de Saúde. O pessoal reclama do atendimento 24h, porém a resposta para nós é que já tem aquela unidade de São Marcos e que não há condições de ser implantado 24h aqui na unidade de Sete de Abril por causa da unidade de São Marcos.


ESPORTE
Inauguramos o nosso clube de futebol, o Bahia de Sete de Abril, em 1968, logo quando surgiu o bairro. Nós tínhamos campeonatos no nosso campo, onde hoje é o Cambonas. Já tivemos grandes clubes, como o Escolinha, o Carmelitano. Na área esportiva, tivemos a conquista do primeiro campeonato de futebol promovido pela Urbis, em 1975.

Nós perdemos um campo de futebol onde hoje está o Conjunto Cambonas, mas ganhamos um outro no loteamento Três de Julho. Lá temos até refletores. E temos um outro, pequeno, na Treze de Maio, onde tem a Liga Esportiva Sete de Abril, bem organizada e que atrai aficionados de toda a região. No esporte temos o Miranda, o Zelinho. Gilmar goleiro também pertenceu aqui ao Carmelitano, o Edílson, chamado Pateta, e outros que saíram daqui de Sete de Abril e conseguiram engajamento em clubes profissionais. Temos lideranças como Cabeça, o Barão e outros. Quadra, nós só temos uma, que é administrada pelo Conselho de Moradores, onde nós realizamos torneios diversos. Temos o pessoal de capoeira, o Mestre Cabeça, mestre William e outros, os remanescentes da capoeira do saudoso Mestre Bêda. Nós temos muito aficcionados da capoeira, que está bem desenvolvida aqui.

CURIOSIDADES
Logo no início, nós tínhamos aqui um serviço de auto-falante. Seu Armínio era um ex-guarda civil, uma pessoa muito dedicada, que implantou aqui o serviço de auto-falante. Tinha um rapaz, Danilo, que ainda é vivo, que trabalhava também. Era o locutor. Seu Armínio tinha um filho chamado Minuca e ele tinha muito cuidado com esse filho. Um dia, Seu Armínio se esqueceu de fechar a voz para a rua e deixou aberto para a rua o aparelho. Então ele chegou e gritou de lá: “Minuca, vem tomar banho, Minuca”. Eu estava aqui, foi uma gozação. Depois eu fui correndo avisar.

Tinha também a jega Mimosa, que carregava água. Seu Reginaldo (ele hoje é maestro Reginaldo) tomava conta da jega. Só que ele ficava batendo na jega, então uma vez Seu Edmundo reclamou: “Ô, Reginaldo, a jega traz a água, a jega cansada e você fica batendo na jega. Não bata mais na jega não. Eu vou lhe dá só uns dois bolos, porque não quero que você bata na jega”.

O nome Rua do Chafariz, ali em frente à Rua 6 de janeiro, é porque ali existia um chafariz que o João fez. O povo chamava “João Chafariz”. No loteamento não tinha água, quem abastecia era o chafariz. Ele tirava água lá debaixo com um motor.


ARTISTAS

Virgínia Rodrigues, ainda garota, eu tive a oportunidade de chamar para um show aqui. Nós fazíamos antigamente um tablado de madeira, um palanquezinho de três metros quadrados. Virgínia Rodrigues morou aqui na quadra B, número 20. Hoje é uma grande cantora de renome, a pérola negra da Bahia. Eu tenho prazer de dizer que ela morou aqui em Sete de Abril. Ela cantava em igrejas e participou com a gente aqui. Conheço muito a senhora mãe, o irmão, familiares dela. Uma pessoa humilde e venceu.

Temos também o maestro Reginaldo, do Pelourinho. Reginaldo era um bom menino, grande músico. Hoje Reginaldo é conhecido ali no Centro Histórico. Foi do Exército, mas ele preferiu ficar com a banda dele. Ele tem uma banda boa e presta serviços para várias instituições.

Entrevistado: Osvaldo Sena, nascido em Cachoeira, em 1939

Entrevista realizada em novembro de 2007